REPORTAGEM NÃO É JORNALISMO LITERÁRIO, de Juareiz Correya

"Jornalismo Literário"é um selo editorial da Companhia das Letras, editora paulista. No posfácio do livro HIROSHIMA, que reproduz, integralmente, a reportagem de John Hersey,
sobre seis sobreviventes da explosão da bomba atômica, publicada, nos Estados Unidos, em agosto de 1946, pela revista The New Yorker (Companhia das Letras, São Paulo, 2002), o jornalista Matinas Suzuki Jr. afirma que "na tradição americana, esse tipo de narrativa tem várias denominações : jornalismo literário, literatura de não-ficção, ensaio, jornalismo de autor, novo jornalismo." E que, segundo os críticos especializados, não seria jornalismo e, se fosse literatura, seria uma literatura de segunda classe.

Nem tanto ao norte nem tanto ao sul. A discussão vai além das redações e é assunto acadêmico de repercussão internacional. Na verdade, a palavra ou denominação correta para esse tipo de produção intelectual, jornalística, não está sendo dita : trata-se, pura e simplesmente, de "reportagem" (trabalho de repórter ou de uma equipe de repórteres), nada mais. No caso do trabalho de John Hersey, a clássica "reportagem histórica".

E este exemplo irretocável é bastante esclarecedor :

O grande repórter Samuel Wainer, uma legenda do jornalismo brasileiro, advertido pelo chefe da seção brasileira da BBC, quando cobria as sessões do Tribunal de Nuremberg, de que o seu papel não era fazer literatura e sim jornalismo, confessa, em seu livro - "MINHA RAZÃO DE VIVER, Memórias de um repórter", Editora Record, Rio, 1988 - : "Permaneci cerca de quatro meses em Nuremberg. Mas aprendi a lição. Desisti definitivamente da literatura. Ou, para ser mais preciso, da subliteratura. Eu havia aprendido uma lição. "

"Jornalismo Literário" , para bom entendedor, é outra coisa, e, no Brasil, valeria para uma bela e inesgotável discussão sobre a sua real existência, desde o tempo de circulação dos suplementos literários (isto é jornalismo literário!) e das revistas literárias (isto é jornalismo literário!!!) até a última década do século passado e os dias de hoje, tempo em que não se publica mais, ou se publica raramente, em jornais e revistas , literatura propriamente dita, que é a literatura artística. Pretender que jornalista seja autor de literatura, ou melhor, escritor, pelo simples fato de escrever um texto, como se estivesse produzindo literatura (e as "literaturas" são muitas, além da artística), é o mesmo que classificar de literatura as receitas culinárias, as bulas de remédio, os horóscopos, as previsões do tempo...

Os repórteres sempre existiram e existem, realizando pequenas, médias e grandes reportagens. E eles têm consciência do trabalho jornalístico que realizam e da atividade profissional que desempenham, a exemplo, hoje em dia, de um Geneton Moraes Neto e de um Caco Barcellos, competentes repórteres que, além dos chavões jornalísticos e dos modismos editoriais, escrevem e editam, lucidamente, a sempre boa, velha e atual "reportagem".

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