INVOCAÇÃO A MARIAMA, poema de Dom Helder Camara

Mariama, Nossa Senhora
Mãe de Cristo e Mãe dos Homens !
Mariama, Mãe dos Homens de todas as raças,
de todas as cores, de todos os cantos da Terra.
Pede ao teu Filho que esta festa não termine aqui,
a marcha final vai ser linda de viver.
Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho
não fique em palavra, não fique em aplauso.
O importante é que a CNBB, a Conferência dos Bispos,
embarque de cheio na causa dos negros,
como entrou de cheio na Pastoral da Terra
e na Pastoral dos Índios.
Não basta pedir perdão pelos erros de ontem.
É preciso acertar o passo hoje sem ligar ao que disserem.
Claro que dirão, Mariama,
que é política, subversão, que é comunismo.
É Evangelho de Cristo, Mariama.
Mariama, Mãe querida, problema de negro,
acaba se ligando com todos os grandes problemas humanos,
com todos os absurdos contra a humanidade,
com todas as injustiças e opressões.
Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo
a maldita fabricação de armas.
O mundo precisa fabricar é Paz !
Basta de injustiça,
de uns sem saber o que fazer com tanta terra
e milhões sem um palmo de terra onde morar.
Basta de uns tendo de vomitar pra poder comer mais
e 50 milhões morrendo de fome num ano só.
Basta de uns com empresas
se derramando pelo mundo todo
e milhões sem um canto
onde ganhar o pão de cada dia.
Mariama, Nossa Senhora, Mãe querida,
nem precisa ir tão longe como no teu hino.
Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias
e os pobres de mãos cheias.
Nem pobre nem rico.
Nada de escravo de hoje
ser senhor de escravos de amanhã.
Basta de escravos.
Um mundo sem senhor e sem escravos.
Um mundo de irmãos.
De irmãos não só de nome e de mentira.
De irmãos de verdade, MARIAMA !

Dom Helder Camara
- Arcebispo de Olinda e Recife
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MISSA DOS QUILOMBOS
(Milton Nascimento / Pedro Casaldáliga /
Pedro Tierra )
CD Polygram do Brasil, 1982.


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