ESCRITORES CENTENÁRIOS DE PERNAMBUCO - 1911/2011 (2) : MAURO MOTA (POEMAS)





HUMILDADE


Que a voz do poeta nunca se levante
para ter ressonâncias nas alturas.
Que o canto, das contidas amarguras,
somente seja a gota transbordante.

Que ele, através das solidões escuras
do ser, deslize no preciso instante.
Saia da avena do pastor errante,
sem aplausos buscar de outras criaturas.

Que o canto simples, natural, rebente,
água da fonte límpida, do fundo
da alma, de amor e de humildade cheio.

Que o canto glorificará somente
a origem, quando mais ninguém no mundo
saiba ele de quem foi ou de onde veio.


(Transcrito da antologia
PERNAMBUCO, TERRA DA POESIA
- Recife, PE, 2010)




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ROMARIA NA CAPELA
DE SÃO BENEDITO DO RAMO



O Engenho nasceu no vale,
nasceu no Engenho a Capela.
São Severino do Ramo
(pelos infelizes vela)
do pátio, esta noite, indaga :
- Que romaria é aquela ?
Quando bole a ventania,
os romeiros saem do chão.
Cada um deles se aproxima
com sua vela na mão,
as velas verdes da cana
com a chama no pendão.

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A CHUVA CAI SOBRE O RECIFE


A chuva cai sobre o Recife devagar,
banha o Recife, apaga a lua,lava a noite, molha o rio,
e a madrugada neste bar.
A chuva cai sobre o Recife devagar.
A chuva cai sobre o telhado das casinhas de subúrbio,
canta berceuses a doce chuva. É a voz das mães
que estão no canto de onde a chuva agora veio.
A chuva cai, desce das torres das igrejas do Recife,
corre nas ruas, e nestas ruas, ainda há pouco tão vazias,
agora passam, de capote, transeuntes
do tempo longe, esses fantasmas de mãos frias.



(Transcritos do site JORNAL DE POESIA
- http://www.revista.agulha.nom.br/mmota.html)



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