AMERICANTO AMAR AMÉRICA
(fragmento final)
"América
tuas veias correm lavras vulcânica
no meu corpo todo possuído
& pelos meus poros estraçalhados
entram bandos de sóis argentinos explosivos
como noites espanholas
& eu me desespero poeta errante & louco
sambando & cantando loas africanas
nas dunas dos teus seios impetuosos
& voo com os meus pés alados
na planície arenosa de púrpura & sal
para não descansar jamais
América América
teus gritos metem jovens nos meus ouvidos
de todas as cores & raças mesclados
irmãos nas ruas largas cantando canções
me arrastam alegorias
& países fantásticos de painéis
armadilhas de anúncios luminosos
& cavalos voadores & dragões
& poetas que alimentam-se de bombas atômicas
& ventres duros de fome
& choros de crianças guitarras
& mundos inteiros ansiando a hora
em que o fogo da minha carne
destrua os lobos & abutres & porcos
comedores de cabeças
América América doce América
meu corpo te pertence flamejante & puro
nas tuas entranhas me divido
pasto para as tuas carnes vermelhas
minha carícias são mágicos jardins edênicos
& brasílica brisa
incendiada teu ventre se abre chão partido
& me engole assim com a cólera de séculos
paulicéias suicidam-se angustiadas
nos escritórias & nas ruas com as cordas
dos próprios músculos antes do carnaval
& vítimas habituais ferem as suas dores
no mesmo lugar agreste de águas
América América doce América
árvores & bichos pregados nos meus cabelos
como poros sexuais multiplicam-se
eu sou tua alegria teu corpo teu deus
& tu me amas orgasmos de esperanças
luzes tontas na íntima Amazônia
como os trovões da minha voz
& os ardentes sonhos paradisíacos
& teu cansaço febril na minha boca
América América doce América"
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Poema escrito na Cidade de São Paulo
(Ano 1972)
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