RUA SETE DA "LIVRO 7" (poema)

 




Rua Sete de Setembro 

(trecho onde "viveu" a Livraria Livro 7) 

- Boa Vista, Recife 



Havia uma rua no Recife uma rua central  

onde tudo acontecia... 

Rua mágica (impossível de existir), 

de jornais da cidade livrarias xerografias 

 casarões teatros e fantasias 

como um eterno carnavival. 

"Nós sofre mas nós goza", dizia Tarcísio da Livro 7 

 da Rua Sete da Síntese de Suely Pereira 

da Saraiva multinacional 

e das rurbanas Lojas Americanas.   

Rua de poetas e de poesia de manhã de tarde e de noite  

como se a vida fosse só Poesia. 

Uma rua assim tão aberta tão certa 

de que o mundo nela existia 

e que jamais o deserto poderia habitá-la. 

Uma rua inteira tomada de luz 

de alta inteligência e de delírios sem sombras 

e de sonhos sem medo. 

Uma rua construída de homens e livros 

- como se constrói uma Nação -, 

uma rua verdadeiramente habitada. 

Nela viveu a Geração 65

e as gerações de todos os rebeldes libertados do Século Vinte

- Marconi Notaro, Marciano Lírio, Lea Tereza Lopes, 

Heloísa Bandeira de Melo, Jorge Nascimento, Paulo Bruscky... 

Por ela andaram - como se estivessem na Mata - Osman e Hermilo. 

Por ela passearam  - como se no Agreste vivessem -

Héber e Homero Fonseca, Vital Santos e Gilvan Lemos. 

E por ela cantaram e dançaram 

- gênios do fogo do Sertão - 

Zé Praxedi,  Jó Patriota, Otacílio e Lourival Batista 

(com a sua voz rouca e a alegria nunca pouca de Zeto Cantador). 

Para Gilberto Freyre era uma pan-rua. 

Para Fernando Sabino, um maracanã. 

Para Dom Hélder Câmara, um caminho de libertação. 

Um dia a Rússia se fez  capitalista 

no palco da Livro 7 com o poeta Evtuchenko. 

E os Estados Unidos sonharam como uma nação socialista  

quando Sidney Sheldon distribuiu mais de mil livros na Rua Sete... 


Tudo isso de verdade era o seu dia após dia. 

Até Ascenso Ferreira (que não a conhecia)

na Rua Sete da Livro 7 renasceu.   

Rua de Cultura e de Grandeza 

(como num hino do Interior de Pernambuco) 

a Rua Sete de Setembro da Boa Vista do Recife 

sempre brilhou e sempre brilharia... 

Mas por artes diabólicas do Destino 

no começo do Século 21 

pura e simplesmente se acabou. 


(Recife,  outubro 2007 / 

 junho 2021) 







Comentários

Sandra Paro disse…
Adorava o clima, o cenário..... um deleite estar , passear por essa paisagem encantada..... teu poema a revive no meu imaginário lúdico, Juareiz Correya poeta.....
Paulo Henrique MACIEL disse…
Juareiz, muito bom. Pode por a opção compartilhar?
Mariza Pontes disse…
Esse post me trouxe de volta o clima da 7 de Setembro dos meus vinte e poucos anos. Como era bom passar a manhã de sábado no Bar 7, depois de assistir a Sessão de Arte do Art Palácio. Emendávamos pela tarde com muita risada, comentários, abraços, namoros, muita birita que ninguém era de ferro; aí se combinava a noitada. Passar na Livro 7 era imprescindível para ver as novidades literárias e adquirir a leitura da semana. Domingo era dia de praia e a turma se encontrava na barraca de Cadoca, em Boa Viagem. Eita saudade boa e muita pena de que não exista mais aquele oásis de criatividade, diversão, engajamento político e discussões literárias que Tarcísio Pereira proporcionou.