CASA GRANDE & SENZALA, de Ascenso Ferreira

O Barão chegou
da côrra diária dos canaviais !

O pajem Joaquim,
apeou-se ligeiro,
sustentando os loros
com estribos de prata
da cela do Barão !

O Barão subiu
e, do alto do terraço,
espraiou o olhar
que não alcançou terras
que não fossem suas !...

Deitou-se na rede
rodeado de escravos
para tirar as botas
das pernas do Barão.
Adormeceu.

Daí a pouco acordou aos berros.

- Susana ! Ô Susana !
- Susana, meu Sinhô,
está lá no fundo do quintal
estendendo roupas...

- Passe a voz !

A voz foi passada e Susana chegava.

- Apanhe aqui este lenço
que caiu no chão !

O fartum da mulata
entrou-lhe pelos gorgomilos,
anulando-lhe os projetos
de abstinência cristã.

Nove meses depois,
com a casa cheia de "comadres"
passando as vezes,
nascia o menino "Banta",
primeiro filho
da prole ilegítima do Barão.

- Benedita !
Ô Benedita, cadê Susana ?
- Dona Susana está lá em cima,
Sinhô Barão,
aprendendo com seu Vigário
um tal de francês...
- Passe a voz, negra sem-vergonha !


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(Página LETRAS&LEITURAS,
Caderno Folha 2 / FOLHA DE PERNAMBUCO,
Recife, 12 de maio de 1990).

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