CEPE lança "Eça de Queiroz - Agitador no Brasil", de Paulo Cavalcanti (2)

No texto de abertura do livro, intitulado "Relato da Rebelião", Nagib Jorge Neto afirma que "a concepção da obra, a força escrita, amplia a dimensão e compreensão das revoluções e insurreições liberais no Estado no século XIX, resulta num relato inovador na forma, numa ruptura com o linear e a rigidez dos critérios de cronologia; e um avanço no conteúdo, no enfoque das causas políticas, econômicas e sociais que marcaram as reações ao arbítrio e ao domínio português no império. Neste sentido, esta obra de Paulo Cavalcanti - EÇA DE QUEIROZ, AGITADOR NO BRASIL - reflete a sua coerência como escritor, a sua crença de que a história é sempre contemporânea, atual."
Nagib Jorge Neto acreescenta que Paulo Cavalcanti elogia e faz reparo ao estilo do escritor, como fazia Machado de Assis, destacando a influência que o escritor português exerceu sobre os escritores brasileiros. "E vai além ao enfocar o papel da imprensa, dos jornais que circulavam em Recife e Goiana, e da efervescência política e cultural marcante na cidade, que passou a ser punida economicamente no final daquele século."
Acentuando que se trata de um estudo agradável, num estilo leve, Nagib Jorge Neto afirma que os capítulos do livro "podem ser lidos como relatos que se interligam, sem a mesmice da linearidade, da técnica de sequência rígida."
O "eciano" Dagoberto Carvalho Jr., em seu texto "Paulo Cavalcanti entre a literatura e a história social", lembra uma frustrada tentativa de edição pernambucana, em 1958, e a sua "bela trajetória editorial" iniciada em 1959, integrando a monumental Coleção Brasiliana ( volume 311), da Companhia Editora Nacional, de São Paulo; e as edições seguintes de 1966, ainda na Coleção Brasiliana, com novo formato; uma edição em Portugal, intitulada O AGITADOR ; e a de 1983, da Editora Guararapes, quando "Pernambuco redimiu-se do pecado original".
O escritor e presidente da Sociedade Eça de Queiroz, do Recife, ressalta que o livro outra vez apresentado ao público e à crítica literária "que lhe tem sido pródiga no Brasil e em Portugal e, até, na antiga Tchecoslováquia, resgata documentos históricos únicos para a bibliografia de Eça de Queiroz, sobretudo pela perspectiva da abordagem : o impacto da recepção de um jovem escritor português no Brasil do terceiro quartel do século XIX, através de uma cidade interiorana de Pernambuco." Isso contribuiu, observa, para que, "quando chega o romancista de O CRIME DO PADRE AMARO e O PRIMO BASÍLIO, Eça já não era desconhecido da nossa gente. Muitos se lembravam da agitação que as suas As Farpas de 1872 provocaram em Goiana."


LITERATURA E POLÍTICA
Nascido no Recife em 1915, o escritor Paulo Cavalcanti é autor de um dos mais importantes painéis sobre a história política e social brasileira, particularmente do Nordeste - a teatralogia O CASO EU CONTO COMO O CASO FOI, reeditada neste ano de 2009 pela CEPE. Ensaísta e memorialista premiado pela Academia Pernambucana de Letras, ex-presidente da UBE - União Brasileira de Escritores, seção de Pernambuco, ex-diretor do Arquivo Público de Pernambuco, militante comunista, preso político, advogado político, promotor público aposentado, ex-deputado estadual, membro da Executiva Nacional do PCB - Partido Comunista Brasileiro, Presidente da Regional do PCB de Pernambuco, vereador do Município do Recife, Paulo Cavalcanti faleceu, aos 80 anos de idade - "80 anos de humanismo." (Juareiz Correya)

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