ASCENSÃO DE ASCENSO, poema de Cyl Gallindo




Ascenso,
como é belo acabar assim :
sem perder o amor,
sem perder a alma,
sem perder o sorriso,
sem perder a vida !


Tuas cavalhadas correm no espaço
de um tempo imensurável,
com palavras inesquecíveis !
Ecoam no etéreo,
pedaços de teus soluços...
- sorrindo e chorando
pelo povo universal que construíste
de sofrimento, amor e sonho !


Ascenso,
como é belo acabar assim :
sempre mais amigo,
sempre mais poeta
do pobre ou do rico,
duma prostituta morena e bela
ou dum bêbado de fim de feira,
dum boneco de barro,
do retirante enganado,
do Natal concreto.


Ascenso,
como é belo acabar assim :
as nuvens no céu,
- o céu nesta hora foi o Nordeste -
fazendo-se de escada,
escada, escadinha,
como escamas de peixe,
pra Ascenso, o velho menino
que da terra se cansou...


E na terra
as lágrimas do teu povo,
aguando os lírios..
os rios,
as rosas,
o bumba-meu-boi...
as saudades também...



(Recife, 5 de maio de 1965 /
Dia da morte do poeta Ascenso Ferreira)

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Publicado na revista LETRAS 1, da Faculdade de Filosofia
da Universidade do Brasil (Rio de Janeiro,RJ, outubro/1965),
anexo ao ensaio "Ascenso Ferreira : O Poeta e o seu
Silêncio", de José Clécio Quesada /
Transcrito do livro A CONSERVAÇÃO DO GRITO-GESTO,
de Cyl Gallindo, publicado no Recife,PE em 1971.

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