HERMILO E PALMARES (1)

Eu havia publicado, no início do ano de 1973 - depois de alguns meses de trabalheira ao lado de Eloi Pedro da Silva, na tentativa de criar e definir o perfil da Editora Palmares -, o livro POETAS DE PALMARES, que reunia boa parte da expressiva produção da poesia desta cidade ao longo de cem anos de sua existência. Um trabalho que contou com a colaboração de boa parte dos professores, estudantes, comerciantes, comerciários, profissionais liberais e autoridades palmarenses, uma gente a quem todo agradecimento em qualquer época será pouco. E mesmo antes da saída do livro havia um reconhecimento da sua importância, feito por Mauro Mota, em sua coluna publicada no "Diário de Pernambuco", do Recife, que patenteava toda a força do trabalho e nos animava para realizar mais. Quando o livro saiu - recebido alegremente por aquela parcela expressiva da população de Palmares, que havia acreditado na sua edição, fazendo a pré-aquisição de exemplares -, eu enviei um exemplar, como não poderia deixar de ser, para o escritor palmarense, já consagrado nacionalmente, Hermilo Borba Filho. Eu não o conhecia pessoalmente e aproveitei a ida de um parente seu ao Recife para enviar a referida encomenda. Esperei, como resposta, a publicação de algum comentário ou mesmo uma crônica como as que ele publicava, semanalmente, na página de Opinião do "Diário de Pernambuco". Passavam as semanas e nada. Então eu falei com outro parente dele, me virei, descobri o endereço do Recife, e sem demora escrevi uma carta ligeira para Hermilo reclamando por que ele não publicava nada sobre o nosso livro, que merecia, eu enfatizava, pelo menos um pouco a sua atenção. Isso dito com uma ironia que ele captou toda inteira e, me respondeu, me escreveu pela primeira vez na vida :


"Recife, 15 de agosto de 1973.


Juarez :

Nesta sua carta sem data você fala como se eu houvesse recebido POETAS DE PALMARES. Jamais. E jamais pus a vista em cima do livro. Falar sobre ele, como, então ? Você fala também como se eu houvesse recebido qualquer comunicação anterior a esta agora sobre a ANTOLOGIA GERAL. Se vocês me houvessem consultado eu desaconselharia o trecho escolhido de DEUS NO PASTO, que não representa o que diz - ou quer dizer - o meu romance. Seria, antes, preferível, todo o primeiro capítulo de MARGEM DAS LEMBRANÇAS. Certo que não queira, no princípio da jornada, ferir moralmente (?) susceptilidades, mas vai feri-las politicamente. É um impasse. Em todo o caso, faça como achar melhor. - Segue a nota bio-bibliográfica. Faça dela o uso que lhe convier, como é de praxe dizer-se. E agora, que recebi uma palavra sua, está tudo respondido, creio. Eu não poderia era responder coisas que não havia recebido. Por isto, o tom levemente irônico de sua carta magoou-me um pouco. Jamais deixei de aliar-me aos jovens em qualquer empreendimento cultural, principalmente quando envolve os pagos a quem devo uma carga tão emocional de minha vida.
Creia na sinceridade do seu

a) Hermilo.





(do livro inédito HERMILO E PALMARES,de Juareiz Correya)

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