A VIDA NÃO É VÍDEO



No dia 11 de setembro,
em Barreirinha, Amazonas, 
o poeta Thiago de Mello
acendia a manhã 
com um novo poema
cheio de gente e de esperança.
E, no Recife, em Casa Forte 
o poeta Jaci Bezerra 
almoçaria mais cedo
para beber liricamente 
com novos versos burilados 
à mesa de um bar
um cantar d"amigo.
Num ônibus de Rio Doce,
sacolejando até o centro do Recife,
o maestro Ademir Araújo 
sonhava mais um arranjo alegre 
para uma composição de Capiba.
Na ladeira de São Francisco
em Olinda de São Salvador 
o pintor João Câmara 
tinha acabado de eternizar um gesto 
num trágico mágico sobre a tela.
A Vida, em todos os cantos,
prenunciava a Primavera 
florando nos corações 
há mais de 2 mil setembros.   
Em cada casa rua praça 
de qualquer cidade da América,
pequena, obscura ou habitada demais 
(como as suas capitais 
e metrópoles rurbanas)
a Vida era uma manhã simples,
clara e calorosa
em seu cotidiano de luz.   

De repente,
no meio do dia, 
se fez noite em Manhattan.
Em Manhattan unicamente,
precisamente no Centro de Negócios do Mundo,
erguido com porrilhões de dólares,
desabou o dia, 
como uma alucinação de Nova Iorque inteira,
como se um artefato atômico 
fosse jogado por um sociopata qualquer 
de um prédio vizinho.    

E, de repente, 
o mundo inteiro não mais seria o mesmo 
com o atentado da Guerra 
do presidente Bush
em defesa do seu País 
(e da paz do mundo, como ele,
cauboi da última decadência, falou).
O Dia inteiro desabou,
de casa a dentro de todos os mortais do Planeta,
como um raio de sol a mais, 
um facho de luz inesperado
explodindo na tela da TV,
mais espetacular  do que uma tragédia hollywoodiana,
mais atraente do que qualquer comercial
 ou sexo de toque digital.
Transmitida em dores, 
instântanea, a imagem do terror 
repetida à exaustão
 dizia, a ponto de todos dizerem,
estupefatos e estupidificados,
presos à explosiva notícia,
não quero mais Te Ver !
não quero mais TV !

O Terror pertencia a Nova Iorque,
mais precisamente a Manhattan,
unicamente à Ilha da Solidão e do Dinheiro !
Em nossas casas,
em qualquer cidade da América,
era setembro, quente e primaveril,
havia poesia, música e cores no Dia,
na Vida que a gente vivia.
NÃO NO VÍDEO !


(Palmares, 27/ novembro /2001)


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Do livro inédito POEMAS DO NOVO SÉCULO


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