MIGUEL ARRAES E CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Texto de Antonio Callado)






     Arraes não conheceu pessoalmente o poeta Carlos Drummond de Andrade. Mas citou o poeta inúmeras vezes, em discursos, no prefácio que fez, ao voltar do exílio, para a segunda edição do meu livro TEMPO DE ARRAES  : "Quanto ao Brasil, voltamos sempre - e sempre citamos - o apelo de Carlos Drummond de Andrade, no seu "Hino Nacional" :  Precisamos descobrir o Brasil (...) / se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens /  por que motivo eles se ajuntaram /  e qual a razão dos seus sentimentos. (...) /  Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros ?"

     Gosto de imaginar o encontro que não houve entre esses dois homens reservados, de fala cordial e mansa. Drummond tinha muito do sertanejo de Araripe e Arraes podia ter sido criado na paisagem férrea de Itabira. E o traço familiar que une os dois  é, naturalmente, o sentimento do mundo e do lugar que o Brasil tarda tanto a ocupar neste mundo. Não estou exagerando a força desse sofrimento compartilhado, que calou tão fundo em Arraes. 

     Eleito pela terceira vez governador de Pernambuco, em 1994, Arraes pronunciou o belo discurso que é um dos últimos reproduzidos neste volume.  O discurso acaba assim :

     "Ao longo dos tempos, o povo de Pernambuco legou aos brasileiros lições de unidade política e capacidade de trabalho. Saberemos mais uma vez honrar este passado.  Tenho o que tinha antes, ao apresentar-me hoje a esta Casa, pela terceira vez, enriquecido pelo que me deu a vida e pelo que me marcou o destino. Nada além, como ensinou o poeta, do que duas mãos, o sentimento do mundo e a certeza renovada na capacidade do povo em fazer sua História."  



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Fragmento final do prefácio de Antonio Callado para o livro
PENSAMENTO E AÇÃO POLÍTICA, de Miguel Arraes
- Topbooks Editora, Rio de Janeiro, RJ, 1997.

 

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