CHOVE E CHORA O RECIFE (crônica), de Giovanna Guterres








          Águas que lavam telhados das casas da minha rua.  Som incessante que aflige o meu coração. 

        Penso nas pessoas que correm para suas casas após um dia de trabalho em que não se vende nada, não se ganha nada, nem esperança ! 

        Dias de terror que terminam com águas que escorrem nos asfaltos lavando e levando tudo. Homens, mulheres e crianças que esperam transporte nas avenidas  sombrias de uma cidade desolada pela sujeira, pela lama e pela incerteza.   Os estômagos pedem por um pão com um café quentinho... Os braços arrepiados, molhados, tremem de frio.  Os pés encharcados não sabem mais que direção seguir.  Dos olhos das mulheres descem lágrimas. Como  chuva. 

          Mais um dia de sacrifício, de quase dor, que termina na escuridão do esquecimento dos donos dos negócios, do trânsito e da cidade, como se fossem deuses.  Eles estão distantes de tudo isso, em seus lares confortáveis, mesas onde não falta comida, cheias e coloridas, contando o dinheiro negado ao pão com café das almas famintas, cansadas, quase perdidas no asfalto do Recife que chove e chora. 

(Boa Vista, Recife /  15 de julho de 2015) 



          

          



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