VIAGENS GERAIS,
DE CELINA DE HOLANDA
(CEPE Editora, Recife, PE, 2016)
"O ESPELHO E A ROSA foi o seu livro de estreia, lançado por Ariano Suassuna e Maximiano Campos e publicado pela Imprensa Universitária.
Vieram depois os outros livros : A MÃO EXTREMA, Edições Quirón, São Paulo, em 1976; SOBRE ESTA CIDADE DE RIOS, 1979, Edições Pirata; RODA D'ÁGUA, 1984, Edições Pirata; AS VIAGENS, 1984, Edições Pirata e VIAGENS GERAIS, Fundarpe, 1995.
Quando conheci a poesia de Juan Ramon Jiménez, poeta espanhol da geração de Garcia Lorca, que também como Celina possui um acentuado lado espiritual e ético, vi que a diferença entre essas duas vozes é que Jiménez teve toda sua vida dedicada à Literatura e Celina só se descobriu na maturidade. Se observarmos bem, veremos que há famílias de poetas que se parecem muito. São os preocupados com os sentimentos mais profundos do ser; os que não trilham pelas veredas da pura experiência de linguagem, dos jogos de palavras que buscam o hermetismo, camuflando a incapacidade para assimilar as dores humanas e as necessidades básicas do viver. Vejamos :
"Ouço o povo numeroso de Deus.
Vem dos mangues, cárceres
e morros.
O Recife pulsa
pulso forte de aço, onde vivo.
A noite fecho a porta à beira-rio
lama e carne indissolúveis.
Ouço as portas.
E o clamor do povo de Deus, abrindo-as."
Logo após o lançamento de O ESPELHO E A ROSA, que obteve o prêmio da Secretaria de Educação de Pernambuco, o poeta Mauro Mota escreveu em sua famosa coluna "Agenda", no Diario de Pernambuco, que "o livro de Celina de Holanda é uma contribuição válida à poesia brasileira de hoje e de amanhã. Somente circunstancialmente uma estreia... De agora em diante, seria difícil falar-se em poesia atual, omitindo o nome de Celina de Holanda."
Alberto Cunha Melo viu uma variedade de temas e o cruzamento entre eles. Há uma homogeneidade formal em Celina, uma voz lírica definitivamente talhada. "Seus poemas de versos curtos e extrema condensação expressiva, formam em conjunto um monólogo multicor, onde os poemas demarcam o discurso, página a página sem baixar a qualidade e diapasão."
Sem ser panfletária ou querer fazer uma poesia meramente política, Celina, diz Maria de Lourdes Hortas, "rejeita a violência e revela-nos a realidade do seu povo à maneira límpida e corajosa de Lorca e Neruda" ... Versos límpidos, despojados, secos, sóbrios. "Cada palavra é um módulo consciente que transporta o grito do poeta contra a estagnada paisagem social em que se debruça."
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Fragmento da apresentação de José Mário Rodrigues,
especialmente para a edição do livro VIAGENS GERAIS,
de Celina de Holanda
(Companhia Editora de Pernambuco - CEPE /
Secretaria da Casa Civil /
Governo do Estado de Pernambuco, Recife, 2016)
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