IDENTIDADE APOSENTADA (crônica)









Cópia da minha cédula de identidade 
(Palmares - PE, junho de 1970) 



          Desde o ano de 1970, quando, aos 19 anos de idade, recebi a minha cédula de identidade em Palmares (PE), onde nasci, tenho portado este documento que, imaginei, poderia se tornar a cada dia mais significativo na minha vida como cidadão...  Foi um engano, e, com uma certa frustração fui obrigado a admitir que,  à medida em que os anos avançavam, esse documento perdia o seu valor  (em vez de ser sempre mais valorizado).  Como todo documento que atravessa anos na construção da vida de alguém, ou de algo, uma cédula de identidade com quase meio século de idade, revelada em uma cópia bem conservada, deveria mesmo ser aplaudida e louvada em cada oportunidade que pudesse ser apresentada a alguém ou em algum setor...  Mas isso nunca aconteceu.   

          Passei mesmo algumas dificuldades, portando esta cédula, diante de caras & bocas de desprezo de funcionários desrespeitosos, em bancos e repartições públicas.  E, por último, em uma agência bancária onde deveria receber o primeiro pagamento (correspondente ao mês de junho deste ano...) da minha Aposentadoria, a jovem gerente de relacionamento do banco recusou prontamente a minha identidade, afirmando que não poderia dar andamento ao processo porque o meu documento era inválido para isso.  De nada valeram os meus argumentos de que a cópia da identidade tinha servido para tudo o que me conduzia até ali : do emprego recente e mais fixo, com mais de 11 anos na empresa, e em todo o processo da minha aposentadoria encaminhado desde dezembro do ano passado...

          A situação era mesmo incontornável.  Percebi que tinha de agir rápido e, por fim, providenciar uma nova cédula de identidade, um RG com identificação idêntica, mas  tendo de ser acrescentada uma nova data de expedição, registro do documento do meu casamento em Olinda (1984), CPF, fotografia atualizada e o carimbo de maior de 65 anos ... 

          Resumindo a ópera sem música : a minha cédula de identidade, com 49 anos de estrada, estava aposentada.  E eu tinha de assumir mesmo a nova identidade, que garantia a minha Aposentadoria pelo INSS, e que dá agora uma nova cara para o futuro da minha vida.     



Juarez Barbosa Correia   
(Recife, julho de 2019) 

Comentários

Lúcia Menezes disse…
É a vida que segue e um mundo novo em nossa frente. Agora de fato, com foto nova que mostra uma vida que vai passando, a aposentadoria e o carimbo " maior de 65", enfim,agora somos mesmo, idosos.