50 ANOS DE POESIA (1970 - 2020) : "Americanto Amar América" (São Paulo, 1972)




AMERICANTO AMAR AMÉRICA 
(fragmento final) 



"América 
tuas veias correm lavras vulcânica 
no meu corpo todo possuído 
& pelos meus poros estraçalhados 
entram bandos de sóis argentinos explosivos  
como noites espanholas 
& eu me desespero poeta errante & louco 
sambando & cantando loas africanas  
nas dunas dos teus seios impetuosos 
& voo com os meus pés alados 
na planície arenosa de púrpura & sal 
para não descansar jamais  


América América 
teus gritos metem jovens nos meus ouvidos  
de todas as cores & raças mesclados 
irmãos nas ruas largas cantando canções  
me arrastam alegorias 
& países fantásticos de painéis  
armadilhas de anúncios luminosos  
& cavalos voadores & dragões 
& poetas que alimentam-se de bombas atômicas  
& ventres duros de fome  
& choros de crianças guitarras  
& mundos inteiros ansiando a hora 
em que o fogo da minha carne 
destrua os lobos & abutres & porcos 
comedores de cabeças  


América América doce América 
meu corpo te pertence flamejante & puro 
nas tuas entranhas me divido 
pasto para as tuas carnes vermelhas 
minha carícias são mágicos jardins edênicos 
& brasílica brisa  
incendiada teu ventre se abre chão partido 
& me engole assim com a cólera de séculos  
paulicéias suicidam-se angustiadas  
nos escritórias & nas ruas com as cordas 
dos próprios músculos antes do carnaval 
& vítimas habituais ferem as suas dores 
no mesmo lugar agreste de águas 


América América doce América 
árvores & bichos pregados nos meus cabelos 
como poros sexuais multiplicam-se  
eu sou tua alegria teu corpo teu deus  
& tu me amas orgasmos de esperanças  
luzes tontas na íntima Amazônia  
como os trovões da minha voz  
& os ardentes sonhos paradisíacos 
& teu cansaço febril na minha boca  
América América doce América"


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Poema escrito na Cidade de São Paulo  
(Ano 1972) 



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