70 SETEMBROS : "CANÇÃO (Palmares, 1973)"

 




Poema transcrito da antologia 

POETAS DE PALMARES 

(Editora Palmares - PE, 1973) 


Dia para fecundar ilusões  

em que o meu  corpo se acalme sem o teu  

corpo que não me chegou por nenhuma via,  

e o meu cérebro apodreça com  sedativos  

vaporosos.  

Dia amargo. Não sei o que  fazer corretamente  

não sei, enfrento caras obesas de hábitos  

enfrento as coisas e os acontecimentos triviais  

dentro da rua  

sem  calma, inquietação, sem sentimentos, 

tenho ódio de tudo com a força morta 

dos meus dedoscabelos amarrados nas janelas dos apartamentos 

e uma sensação idiota de que abro vazios  

dentro de mim com um  bisturi  enferrujado  

e  sangro pelas cicatrizes fétidas 

cobrindo-as com pastas de tuberculose e dentes de máquinas  

mastigo  pelos braços  vagamente bolos de nadas.   


Poemas gargaloam secamente até a minha boca 

e os meus gritos gelam as estrelas que ardem 

dentro das salas onde são torturados e assassinados 

os homens do meu tempo, 

onde a minha geração sacrifica-se 

pelo bezerro de ouro das igrejas depravadas  

e  os anjos bíblicos  

forjam cadeias para as suas alegrias. 



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70 SETEMBROS - Antologia poética 

de Juareiz Correya 

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Comentários

Sandra Paro disse…
parece que 1973 é hoje, poeta caríssimo.....