70 SETEMBROS - Antologia poética: "OFÍCIO DOS OSSOS"

 



Página inicial do poema "Ofício  dos Ossos", 

do ebook 70 SETEMBROS - Antologia poética 

(Panamerica Nordestal Editora / 

Ebooks Panamerica, Recife - PE, 2021)   


OFÍCIO DOS OSSOS 


para Juareiz Correya 


O que tens, poeta, é bem pouco 

ou muito ou nada ou o que seja serve 

para tua mitologia, sem sentidos 

tens o pé a a hora do poema cheia, 

uma enchente pelas  ruas da cidade que significas. 

Tens o prato, e a  prata ? 

tens a prata, uma pata medonha 

que te esmurra de passagem 

no meio do povo, 

de novo,  

todos querem ver 

 o tabefe te cobrindo o rosto, a rubra vergonha 

que não tens e te roubas,  tentando 

palhacear, tentando palha cear 

teu prato direto estômago chato 

esta vida não te dá enjôos ?  


Poeta, o que tens 

não representará nunca teu minuto de sorte 

contado teu tempo 

escalas escadas 

e te calas ? tu falas 

safado, teu feijão é muito 

(suficiente para qualquer um) desnecessário 

para teu apetite, tua ração 

faz falta aos porcos.   


O que  tens poeta, não mereces 

e se recebes um cruzeiro por igual valor 

envergonhas o câmbio.  

O  que tens poeta é o que te cabe 

e não serviria mesmo para ninguém mais. 

O que tens,  excedência dos outros, 

existe apenas para o teu desassossego, 

para a miséria que permutas em teu nome, 

pelos que te esquecem, 

em sacrifício dos que te evitam, 

pela alegria dos que te entristecem, 

pelos cacos da ruína que edificas 

com  essa nudez que surpreende os cães da platéia, 

com essa nudez em que estrepas tesa 

a confusão  de ser  



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"Ofício dos Ossos"  é um poema publicado no  folheto 

Um doido e a maldição da lucidez - Literatura em cordel -, 

  de Juareiz Correya (Edição do autor, Palmares - PE,  1975) 

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Acesse o  livro digital  70 SETEMBROS 

em EBOOKS PANAMERICA  

-  www.ebookspanamerica.net.br 




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