19 DE AGOSTO 2023: 79o. Aniversário de Nascimento de Jaci Bezerra - Um escritor pernambucano de Alagoas (4)

 




LINHA D'ÁGUA (Capa)

- Antologia poética de Jaci Bezerra - 

Companhia Editora de Pernambuco - CEPE  / Governo do Estado

(Recife - PE, 2007)  


Em 1987, ano do segundo Governo Arraes, Jaci Bezerra presidiu a FUNDARPE - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, e deixou a sua marca com a criação de um concurso literário estadual e do selo editorial "Biblioteca Comunitária de Pernambuco", produzido em coedição com a Companhia Editora de Pernambuco - CEPE.  A FUNDARPE publicou mais de 60 títulos de livros de autores pernambucanos com esse selo editorial.  

 A produção literária de Jaci Bezerra sempre foi reconhecida e respeitada por nomes de relevo no mundo literário brasileiro, a exemplo de César Leal, Sebastião Vila Nova, Alberto Cunha Melo, Maximiano Campos, Edson Nery da Fonseca, Ângelo Monteiro, Altimar Pimentel, Hildeberto Barbosa Filho, Waldemar Lopes, Sydrack de Holanda Cordeiro, Fernando Mendes Vianna, Enide Yatsuda Frederico, Moema de Castro e Silva Olival, Wilson Martins e Gilberto de Mello Kujavski. O professor e crítico português Arnaldo Saraiva sintetiza muito bem o poder criativo e a importância literária de Jaci Bezerra escrevendo de Pernambuco para o mundo: 

"Reconheço que nunca lerei todos os livros, mas fiz questão de ler COMARCA DA MEMÓRIA (Jaci Bezerra, Edições Flamboyant, Recife - PE, 1993), que vim encontrar num regresso de Paris, onde estive ensinando bastante. Li e fiquei surpreendido. A sua linguagem, transparente e intimista, mas depurada, é muito pessoal, mesmo quando nela ecoam vozes de outros poetas, aliás explicitamente homenageados, e parece pairar, como a dos clássicos, acima das contingências do moderno e do antigo."  

Este fragmento do texto de Arnaldo Saraiva, escrito em Portugal no ano de 1994, sobre o livro de poesia COMARCA DA MEMÓRIA, de Jaci Bezerra, está incluído na única  antologia poética do autor -  LINHA D'ÁGUA -, publicada até os dias de hoje.  Membro da Academia Pernambucana de Letras, o jornalista e escritor Flávio Chaves, registrou, no seu Blog, esta opinião sobre a citada antologia:

"Esta antologia de Jaci Bezerra foi editada pela Companhia Editora de Pernambuco - CEPE, do Governo do nosso Estado, no ano de 2007,  quando exercemos o cargo de diretor-presidente, e tivemos a sorte de promover também a edição de outros importantes livros de autores pernambucanos.  A antologia de Jaci Bezerra merece, naturalmente, nesta década do Século 21, uma nova edição, assim como outros títulos da CEPE que esse curto espaço de tempo nos permitiu editar."  

Quando afirma, sobre a poesia de Jaci Bezerra, que "nela ecoam vozes de outros poetas, aliás explicitamente homenageados", o professor e crítico português acerta em cheio o coração pleno de fraternidade do poeta. Assim como nos seus livros anteriores, as amizades e admirações de Jaci Bezerra inspiram "explicitamente" os seus poemas e, o seu cantar d'amigo, feito Gonzaguinha, explode o coração do poeta em COMARCA DA MEMÓRIA. Neste livro, figuram nos títulos dos poemas o continente de Gilberto Freyre, a permanência de Mauro Mota, a interpretação de Edson Nery da Fonseca, a presença de Manuel Bandeira, um bilhete a Carlos Pena Filho... Esses poemas estão republicados na sua antologia já citada, um livro que, em sua abertura, apresenta também outro time de amizades e admirações do poeta: Tadeu Rocha, Gonzaga Leão, Murici, Maceió, Recife (as cidades irmanadas na geografia do seu coração), Juareiz Correya, Fernando Spencer, Ana Elisabete, Sosígenes Costa, Luciano Nunes, Edson Guedes de Morais, Cesar Leal, Vitalino de Caruaru, Jorge Luís  Borges e Fernando Pessoa. 

Nascido literariamente em Pernambuco, o alagoano Jaci Bezerra soube relevar, como poucos poetas pernambucanos, a sua "Noção de Pernambucanidade": 

Quando é verão no Recife e as acácias 

se preparam para voar, tudo é abril nos corações: 

os que amam sentem desmanchando-se na boca 

um gosto de azul e água, cajueiros e sol 

enquanto o rio soluça ferido de luz

carregado de paisagens mansas e pacificadas. 

Milagre do amor, que vai até onde o amor é lembrança: 

o Recife, ulcerado, passeia dentro de nós

pesado de vivos e mortos também ulcerados, 

mas os que o amam o sentem vivo e intacto: 

porque é abril no Recife e abril nos corações 

e as acácias se desmancham em flor e começam a voar.   


Poeta, contista, novelista, ensaísta,  antologista, dramaturgo  e editor, Jaci Bezerra publicou 8 livros de poesia, organizou 6 antologias poéticas e tem a sua criação literária divulgada em 11 antologias editadas em Pernambuco, Brasília, São Paulo e Rio de  Janeiro. 

Criativo e inteiramente dedicado à produção literária, Jaci Bezerra, ao partir do nosso pequeno mundo terreno, em dezembro de 2020, deve ter deixado inúmeros textos escritos inéditos e livros organizados para futura publicação. Pesquisadores, historiadores, editores, jornalistas, professores, mestres e doutores universitários têm o compromisso de conhecer e divulgar a inesgotável criação literária de Jaci Bezerra, de ontem e para sempre. 


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Juareiz Correya 

(Recife, agosto 2023)

 




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